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Violência de gênero contra jornalistas soma 119 casos em 2021, diz estudo

Daniela Lima, âncora da CNN, é citada como a mais agredida; ataques são em sua maioria digitais e iniciados por autoridades do governo. Em 2021, foram registrados 119 ataques contra mulheres jornalistas e ataques de gênero envolvendo profissionais da imprensa. Na média, ocorreu um ataque do tipo a cada três dias.

Os dados são do relatório “Violência de gênero contra jornalistas”, produzido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com apoio do Global Media Defense Fund da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Entre as jornalistas agredidas, o levantamento aponta que a âncora da CNN Daniela Lima foi a mais atingida.

“Em apenas um ano, ela foi alvo de 8 ataques diferentes, relacionados a temas de política, segurança pública e economia e emprego. Em um único caso, Lima foi alvo de cinco agressores diferentes”, mostra o estudo. O levantamento, divulgado nesta terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher, traz registros de ataques públicos contra “mulheres, cis e transgênero, meios de comunicação voltados para pautas feministas e agressões com características sexistas, homofóbicas, transfóbicas ou misóginas, classificadas como “ataques de gênero” e que podem vitimar homens e mulheres (cis ou trans) e pessoas não-binárias”.

Entre os 119 casos, 38% foram classificados como ataques de gênero. Os alvos principais: a moral e reputação de jornalistas mulheres (32 casos) e ataques homofóbicos (8) e transfóbicos (1).

Os dados revelam ainda dois casos de violência física contra mulheres jornalistas e dois ataques online motivados por cobertura jornalística relacionada a gênero.

Além de Daniela Lima, o levantamento lista outras jornalistas brasileiras agredidas: Juliana Dal Piva, Mônica Bergamo, Patricia Campos Mello, Amanda Klein e Vera Magalhães.


As agressões e os agressores

A pesquisa da Abraji revela ainda que, em 18% dos 119 casos, as vítimas foram atacadas por seu histórico profissional, por suas conexões (pessoais ou profissionais) ou por aquilo que representam para o jornalismo brasileiro, independentemente do tema das reportagens e da cobertura.

Mas a maioria dos ataques (60%) foi motivada pela temática da cobertura jornalística, de política, e 52% dos agressores identificáveis foram agentes do Estado.

No caso da cobertura sobre saúde, em 80% dos casos das agressões, de acordo com o relatório, “a hostilidade contra as jornalistas e comunicadores foi, sobretudo, inflamada por opositores das medidas de distanciamento social e controle da pandemia, pessoas antivacina e grupos que acusam a imprensa brasileira de conspirar contra o governo de Jair Bolsonaro”.

Pesquisa: em 2021, foram registrados 119 ataques contra mulheres jornalistas ou ataques de gênero / Abraji/Voces del Sur


Segundo a pesquisa, 69% dos episódios de violência com mais de um agressor foram iniciados por autoridades do governo e funcionários vinculados aos poderes do Estado.

“Em 52% dos casos com múltiplos agressores, constatou-se uma tendência de vinculação entre essas autoridades e redes de trolls na internet. Nesses casos, autoridades públicas iniciaram os ataques e redes organizadas ou semi-organizadas de usuários os amplificaram, reproduzindo os mesmos conteúdos ou muitas vezes os mesmos termos, gerando um efeito de empilhamento de mensagens abusivas”, diz trecho do relatório.

O estudo detalha ainda que, em 68% dos 119 casos registrados, as agressões se originaram no meio digital. A maioria desses casos (93%) foi de ataques verbais para difamar e desacreditar a vítima, além de ameaças e restrições na internet.

Os pesquisadores construíram uma nuvem de palavras com algumas das ofensas mais comuns: “vagabunda”, “puta”, “feia”, “velha”, “biscate”, “queima rosca” e “viado” foram alguns desses termos.

Outras palavras que apareceram foram “loucas”, “mentirosas”, “fofoqueiras” e, com uma conotação mais ideológica, “militantes”, “jornazistas”, “comunistas” e “esquerdistas”.

Nuvem de palavras mostra as principais ofensas direcionadas às jornalistas mulheres, segundo pesquisa / Abraji/Voces del Sur


Ataques pelas redes sociais

A metodologia do levantamento combina diferentes técnicas de coletas de dados por redes sociais e veículos de comunicação, além de transcrições de vídeos do Youtube.

Entre as plataformas analisadas, o Twitter foi a plataforma digital mais usada para ataques contra jornalistas (66), seguido por Instagram, Facebook, YouTube e WhatsApp.


Subnotificações

A Abraji monitora ataques a jornalistas no Brasil desde 2013 e alerta para o crescimento desses abusos ao longo dos anos. Entre 2020 e 2021, a associação registrou um aumento de 24,3% nos alertas de violações à liberdade de imprensa.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo considera ainda que um dos principais desafios para esse tipo de levantamento é a subnotificação de casos, “provocada pelo estigma que pode acompanhar o ato de denunciar uma agressão”.

Além da Abraji, o levantamento foi produzido em parceria com a rede Voces del Sur e conta com apoio do Instituto Patrícia Galvão; da associação Mulheres Jornalistas; da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), da empresa social Gênero e Número; do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) e do Repórteres sem Fronteiras.

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